quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Numa noite fria


A noite iria ser fria. O presságio revelava-se preocupante. Parei, estava agora imóvel, com o pé direito atrás e instintivamente fiz figas. Não me perguntes porquê, mas achava que hoje não te irias lembrar de mim. Só te posso dizer que a noite calculava-se fria e eu sentia-me apreensiva. Sim estava Lua Cheia, mas isso não era efectivamente o que me originava calafrios, nunca acreditei muito na história dos lobisomens, embora pensar nisso fosse talvez mais perturbante do que a situação em causa.

Passo a passo, deixava-me conduzir pela noite que murmurava por mim. Ou por ti, como queiras. Saí de casa, para estar perto de ti, seja lá isso o que for. Liga-se o Ipod e o que se ouve é Queen, a avisarem-me que *muito Amor irá matar-me. O Freddie decidia agora vir assombrar a minha hora perto de ti. Era efectivamente a banda sonora perfeita para este momento. Não me importei, continuei a andar pelas ruas desertas de pessoas que presumivelmente agora estariam com as suas respectivas famílias. Gosto das ruas assim, melancólicas, com saudades de serem pisadas por pessoas cheias de desassossegos, pessoas que se perguntam se tudo irá correr bem, pessoas inconformadas com o reboliço em que as suas vidas se transformaram. Pessoas, como eu. Um pé na rua em que te vi pela primeira vez, e era sentir-me a voar. Mas quando outro pisava a mesma, puxava-me para a Terra. Não estavas comigo, para quê voar? À medida que os quarteirões iam e vinham, a minha nostalgia aumentava. Estavas longe, e nada teria piada sem ti. Fosse nesta rua ou na 5th Avenue. Resolvi ir-me embora, já não fazia sentido recordar-te ali se estavas tão aquém do meu alcance. A noite estava fria e o caminho até a ti era tão longo.

À porta, a flor que havia apanhado à vinda para casa, havia voado com o vento que se fazia agora sentir. Desci as escadas e fui apanhá-la, baixei-me, agarrei-a e olhei para a Lua e sorri. Tinha comigo a estranha sensação, que mesmo longe, estarias a fazer precisamente o mesmo. Nada mais reconfortante do que isto.Entrei em casa, o telemóvel tocava. Eras tu, elogiavas a Lua que te visitava hoje e se por aqui também estava tão bonita. Disse-te que sim com entusiasmo, afinal era a tua Lua pensei eu. Passado pouco tempo desligaste e eu dormi com a janela aberta. Diz que era para te ter perto de mim.

Afinal estava uma noite fria. E a mãos tremiam, mas a tua boca, essa, dissera-me o eloquente murmúrio para me deixar adormecer cheia de graça. Afinal, estavas tão longe, mas a pensar em mim.

(Também tenho saudades )



* Queen- Too much love will kill you

10 comentários:

Chamem-me o que quiserem - desde que me chamem. disse...

L I N D O.

Joana ' disse...

....

Por vezes, bastam as palavras certas ditas na hora certa para nos aquecerem o coração e tornarem mais forte, ainda, o amor.

Que texto... *.*
Beijinhos querida, não deixes nunca de nos proporcionar leituras tão agradáveis e estupendas =)

Saphira disse...

Adoro esta musica dos Queen =D
O texto está muito bonito realmente, parece que entramos de tal maneira nas palavras, qe vamos vivendo cada frase... =)

Sinto algmas das coisas que escreves, porque padeço de uma saudade imensa ...

Bjo *

Cátia'P disse...

Pode até estar uma noite fria mas as palavras certas aquecem qualquer coração.
A saudade é um mistério :')

Um beijinho *

Elena disse...

de nada :) já conhecia de outro blog que tive e no qual tambem comentas-te! o teu esta muito giro. :) um beijinho

rc. disse...

É assim, ao ler este texto, senti - me no teu lugar . Está tão , mas tão bom , que nem sei o que dizer .

Está mesmo perfeito ,

Gostei IMENSO , :)

Rui Fernandes disse...

Espero continuar-te a ver no meu blog,
Aguardo-te...

Beijinho

Only Words disse...

Parabéns pela escrita, pela capacidade de expressão, pelo o uso certo das palavras e das metáforas. Gostei de te ler. Vou voltar aqui mais vezes, com toda a certeza ;)

Caranguejo disse...

Oi, vim retribuir a tua visita pelo meu canto é bom saber que há por ai mais caranguejos :).

É um belo post sem duvida no entanto sofrido vaguear por ruas assim é como percorrer as ruas dos nossos sentimentos que tem tantos cruzamentos, tantas inclinações que podem deixar marcas bastante profundas em nós.

Gostei do teu espaço

Um beijo

Anónimo disse...

Muito obrigada =)
acredita, já esperei tudo, agora está na altura de me render. O que não tem de ser não é. Há impossíveis, aprendi-o. *