No espaço que deixaste ficaram reticências ensurdecedoras. Hoje sei, que nunca em altura nenhuma quis o melhor para ti. Quis o melhor para mim, que era ter-te comigo, para sempre talvez. Fui preenchendo esses espaços com palavras bonitas que te escrevia sem te escrever e noites sem dormir a pensar no que teria corrido mal. Com abraços que mais tarde facilmente descartava e com beijos que pouco ou nada me diziam, com distância propositada de uma vida por descobrir.
Hoje sei de uma menina que pensava saber como reagir, como falar, como recuperar, essa menina não sabia de nada. Perdeu-se ao achar que sabia tudo. Perdeu-se ao achar que te podia ganhar, um dia talvez. Foi feliz, talvez cedo demais, talvez forte demais, quis provar que ainda existiam finais felizes, quando ao final da noite ela sabia que lutar por aquilo tornava-se ridículo. Perdeu-se a inocência de quem ainda acreditava em palavras, cedo demais diziam alguns. O seu coração tem calo dessa grande desilusão e quem hoje a vê, não mais a reconhece. A sua força por lutar não desvaneceu, só ganhou outros contornos. A menina quem a levou foste tu, obrigaste-a a crescer e ser mais mulher. Uma mulher menina, diziam uns. Uma menina mulher, diziam outros. Sem nada entender, ela ali se encontrava com o doce e fugaz olhar de quem sabe mas prefere ignorar, inventar tarefas para fazer, compras com as amigas, café com os amigos, comboios para apanhar, roupa para estender, tudo para não pensar que um dia era tua, só tua, irremediavelmente tua. E que nada, nem ninguém poderão mudar esse facto.
Enquanto escrevia para ti, sabia que nunca a irias ler, que nunca te iria tocar como antes, que nunca mais foras o mesmo e ela nunca mais fora a mesma. E isso é engraçado e irónico! Como alguém que já nos disse tanto, nos pode escapar assim entre os dedos? Como é que sabes que paraste de amar alguém? Como pões um ponto final a isso? Enquanto escrevia para ti, dava-se conta que já não sabia escrever sobre ti. Tinhas-lhe fugido pelos dedos, como se fosses pó. Bastou um sopro, um nadinha de nada para te ausentares. Ela sabia-o há muitos anos, que nada de ti sabia mais, mas gostava de te escrever e por momentos pensar que ainda continuavas aí, imortal, sereno, ouvinte, como outrora ela te conheceu.
4 comentários:
Minha querida... É com um sorriso cheio que observo que a menina de coração partido, se transformou numa Mulher, Lady L.
E entendo perfeitamente essa sensação de amar areia fina, que nos escapa por entre dedos mal fechados.
Por fim, sei também que tinha muitas saudades da tua escrita e da forma como sempre me encheu o coração...
Espero que este teu regresso não seja apenas um lusco fusco... Porque sabe bem ler-te e porque me tenho perguntado o que será feito de ti, nestes últimos dois anos...
Um grande beijinho e um obrigada, gigante, por este texto que me fez relembrar o encanto que me agarrou a este mundo da escrita e dos blogs
P.s.Que não demores a voltar
The path is on. Much to learn you have, my young Padawan...
Lili, ler isto fez-me recuar uns bons anos atrás no tempo, e de repente eis que me encontro em Coimbra, no Dolce Vita Coimbra, naquela tua casa alugada, que fazíamos como nossa nas nossas mentes fundidas. Trouxe-me à memória, viagens de comboio ora radiantes de felicidade por te ter, ora raiada de lágrimas por ter que te deixar. Coimbra-B.
Voltei ao local onde fomos felizes. Quando já não éramos nada, quando já nada daquilo que fomos um dia nos unia.
Foste uma página importante na minha vida, da qual não me vou esquecer. Espero que estejas bem, estejas onde estiveres, um grande beijinho de alguém que um dia fez de ti o seu mundo.
AS
Da última vez que me lembro palavras vindas de ti, nada valem e estão cheias de mentiras. Por isso, sai por onde entraste, nada do que possas dizer me interessa.
E não, o texto não foi feito para ti e sim, estimo bem que não tentes entrar em contacto. É claro que irás lembrar-te sempre de mim, mas não esperes que seja mútuo.
Obrigado.
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